sexta-feira, 26 de setembro de 2014



TV Record: A serviço da informação ou do Ibope?


Quem olha a grade de programação da TV Record deve imaginá-la a serviço da informação, mas quem se aventura a assisti-la, nota exatamente o que a emissora visa conseguir.


Com uma programação dedicada á 15 horas diárias de jornalismo, a Rede Record apresenta apenas uma novela, um seriado e dois programas de variedades, que vez ou outra são utilizados para continuar cobrindo notícias de um jornalístico anterior. Um montante considerável de horas ao vivo, gerando programação inédita e novos empregos, poderia fazer dela uma das melhores emissoras do país, se não fosse pelo uso tendencioso que dá ao seu telejornalismo.


Quem já parou para assistir aos jornalísticos da emissora, com certeza notou o alto grau de sensacionalismo e apelação em todo o seu conteúdo. São horas repetindo as mesmas imagens sem novas informações, com um apresentador quase narrador, fazendo o que pode para esticar a matéria; isso se estiver obtendo bons índices de audiência, caso contrário a reportagem é abruptamente interrompida, não importando se o telespectador estava interessado.

Jornalístico tornou-se um circo


O Circo

 jornalístico “Cidade Alerta” fica no ar durante 3 horas e 25 minutos, e nesse meio tempo, não chega a transmitir nem dez notícias, as que vão ao ar poderiam ser exibidas em quinze minutos de programa. No restante das 3 horas e 15 minutos, o telespectador assiste a um circo montado por Marcelo Rezende e sua turma, que conta até com “defeitos” especiais ilustrativos como carro, helicópteros, que acredite se quiser, interagem com o jornalista.


É assim por toda a programação, os mesmos conteúdos são reprisados em todos os noticiários do canal, as mesmas imagens exibidas durante as quase 16 horas de jornalismo, que claramente utiliza-se deste recurso por ser incapaz de produzir variedades e conseguir cativar o público de outra forma que não seja explorando a desgraça alheia ou transmitindo incansáveis horas de sensacionalismo. O que esta TV se esqueceu, é de que algum dia o gênero irá   se esgotar e todo a sua audiência minguará, mas enquanto isso não acontece, corta pra mim!

Dyego Terra


Classificação indicativa na TV aberta

A boa e velha classificação indicativa, regida pelo Ministério da Justiça, atua há muitos anos na TV aberta brasileira com o objetivo de analisar o conteúdo de determinado programa e, como o nome já diz, indica um horário apropriado para a sua exibição. Porém o que vemos hoje é quase um retorno à censura na televisão. 

Sugerir um horário para exibição de um programa, apresentando o seu conteúdo e recomendando uma faixa etária, soa como o ideal na teoria, pois na prática o Ministério da Justiça recebe, seleciona e praticamente escolhe o que vai ao ar, através de aspectos e considerações que julgam ter uma obra televisiva. Hoje, vai ao ar na TV aberta o que os promotores escolhem.


A televisão tem cada vez mais empobrecida a sua programação. É difícil manter uma gama de conteúdos interessantes e proveitosos em determinados horários. No período que compreende as faixas horárias de 06h00 da manhã e 20h00min da noite, só podem ser veiculadas atrações com classificação livre ou inapropriadas a menores de 10 anos, um período muito extenso, o que acaba resultando em programações completamente parecidas entre as emissoras.

Escravos de reprises


Atualmente as redes de televisão Globo e SBT, destinam a sua faixa vespertina a apresentação de sessões de filmes e novelas, que tem recebido grande crítica pelos telespectadores devido a reprises exaustivas. As duas emissoras sofrem para selecionar atrações que a classificação permita serem exibidos no horário, e em muitos casos, conteúdos que não agridem a nenhum telespectador ou totalmente editáveis, podendo ter cenas retiradas sem prejudicar o entendimento, e que acabam sem ir ao ar. Atualmente,  com a “nova portaria 368 da Classificação indicativa”,  apenas 10% do conteúdo da obra já permite a emissora pôr no ar uma trama, mas em todo caso, correndo o risco do restante do material conter alguma “inadequação” e a rede ser convidada a retirá-la de sua grade.


Ainda citando as duas emissoras, no caso da Globo, impede-se as reprises de novelas de seus maiores sucessos da faixa das 21h00, já que a grande maioria dos folhetins que foram exibidos neste horário recebem classificação de “12 anos”, ou seja, inapropriadas para ir ao ar antes das 20h00.  Com isso, a título de curiosidade, “Chocolate com pimenta” e “Da cor do pecado”, folhetins das seis e sete horas, já foram exibidas três vezes em um curtíssimo espaço de tempo.

Censura?


Já com o SBT, a situação foi mais drástica. Uma novela juvenil foi retirada do ar após uma personagem ter sido flagrada por sua mãe comprando drogas e comentando sobre o assunto, mesmo não havendo sequer uso do entorpecente por parte da atriz na cena, foi o ponto culminante para que o Ministério da Justiça comunicasse ao canal que em cinco dias a novela deveria ser transferida a um horário mais adequado, escolhido por eles ou retirada do ar.  Com 80% de seu conteúdo já tendo sido transmitido no horário das 16h00 da tarde, foi inviável a sua transferência para após as 20h00. Para que essa decisão seja tomada, a emissora precisaria ter sido notificada anteriormente, mas que de qualquer forma, não apresentava conteúdo inadequado, tendo vista que após as reclamações do órgão, a emissora passou a editar até cenas de beijos. A possibilidade de novelas inéditas serem exibidas à tarde também é questionada, a novela mexicana “Soy tu Dueña” , dublada há mais de dois anos, continua vetada de ir ao ar. Esse também foi um dos fatores que levaram ao fim a sessão de filmes “Cinema em Casa”, eram poucos os longas liberados para o horário. 


Tanta proibição nos faz lembrar os tempos de ditadura e tenta nos convencer que os produtos televisivos estão mais pesados. Na verdade há um exagero nos critérios de avaliação de seus conteúdos. Deveria haver redefinição do que realmente é impróprio e, até mesmo, redução dos horários permissíveis de agora, pois enquanto a censura prevalecer, perderemos nós telespectadores, que estaremos sempre “de volta a lagoa azul” em um eterno "vale a pena ver de novo".
Dyego Terra