sexta-feira, 26 de setembro de 2014



Classificação indicativa na TV aberta

A boa e velha classificação indicativa, regida pelo Ministério da Justiça, atua há muitos anos na TV aberta brasileira com o objetivo de analisar o conteúdo de determinado programa e, como o nome já diz, indica um horário apropriado para a sua exibição. Porém o que vemos hoje é quase um retorno à censura na televisão. 

Sugerir um horário para exibição de um programa, apresentando o seu conteúdo e recomendando uma faixa etária, soa como o ideal na teoria, pois na prática o Ministério da Justiça recebe, seleciona e praticamente escolhe o que vai ao ar, através de aspectos e considerações que julgam ter uma obra televisiva. Hoje, vai ao ar na TV aberta o que os promotores escolhem.


A televisão tem cada vez mais empobrecida a sua programação. É difícil manter uma gama de conteúdos interessantes e proveitosos em determinados horários. No período que compreende as faixas horárias de 06h00 da manhã e 20h00min da noite, só podem ser veiculadas atrações com classificação livre ou inapropriadas a menores de 10 anos, um período muito extenso, o que acaba resultando em programações completamente parecidas entre as emissoras.

Escravos de reprises


Atualmente as redes de televisão Globo e SBT, destinam a sua faixa vespertina a apresentação de sessões de filmes e novelas, que tem recebido grande crítica pelos telespectadores devido a reprises exaustivas. As duas emissoras sofrem para selecionar atrações que a classificação permita serem exibidos no horário, e em muitos casos, conteúdos que não agridem a nenhum telespectador ou totalmente editáveis, podendo ter cenas retiradas sem prejudicar o entendimento, e que acabam sem ir ao ar. Atualmente,  com a “nova portaria 368 da Classificação indicativa”,  apenas 10% do conteúdo da obra já permite a emissora pôr no ar uma trama, mas em todo caso, correndo o risco do restante do material conter alguma “inadequação” e a rede ser convidada a retirá-la de sua grade.


Ainda citando as duas emissoras, no caso da Globo, impede-se as reprises de novelas de seus maiores sucessos da faixa das 21h00, já que a grande maioria dos folhetins que foram exibidos neste horário recebem classificação de “12 anos”, ou seja, inapropriadas para ir ao ar antes das 20h00.  Com isso, a título de curiosidade, “Chocolate com pimenta” e “Da cor do pecado”, folhetins das seis e sete horas, já foram exibidas três vezes em um curtíssimo espaço de tempo.

Censura?


Já com o SBT, a situação foi mais drástica. Uma novela juvenil foi retirada do ar após uma personagem ter sido flagrada por sua mãe comprando drogas e comentando sobre o assunto, mesmo não havendo sequer uso do entorpecente por parte da atriz na cena, foi o ponto culminante para que o Ministério da Justiça comunicasse ao canal que em cinco dias a novela deveria ser transferida a um horário mais adequado, escolhido por eles ou retirada do ar.  Com 80% de seu conteúdo já tendo sido transmitido no horário das 16h00 da tarde, foi inviável a sua transferência para após as 20h00. Para que essa decisão seja tomada, a emissora precisaria ter sido notificada anteriormente, mas que de qualquer forma, não apresentava conteúdo inadequado, tendo vista que após as reclamações do órgão, a emissora passou a editar até cenas de beijos. A possibilidade de novelas inéditas serem exibidas à tarde também é questionada, a novela mexicana “Soy tu Dueña” , dublada há mais de dois anos, continua vetada de ir ao ar. Esse também foi um dos fatores que levaram ao fim a sessão de filmes “Cinema em Casa”, eram poucos os longas liberados para o horário. 


Tanta proibição nos faz lembrar os tempos de ditadura e tenta nos convencer que os produtos televisivos estão mais pesados. Na verdade há um exagero nos critérios de avaliação de seus conteúdos. Deveria haver redefinição do que realmente é impróprio e, até mesmo, redução dos horários permissíveis de agora, pois enquanto a censura prevalecer, perderemos nós telespectadores, que estaremos sempre “de volta a lagoa azul” em um eterno "vale a pena ver de novo".
Dyego Terra

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